A psicologia é hoje uma ciência mais acessível e compreensível para as pessoas de uma maneira geral, pois o acesso é fácil a um extenso material nos meios de comunicação, seja ele virtual, como a internet, e real, como livros, palestras e cursos. Apesar disso atravessamos um momento delicado. Por quê? Inúmeros motivos!

Buscar uma psicoterapia não é um movimento nada fácil. Normalmente a pessoa procura um profissional quando já está no seu limite. Inicialmente tenta enfrentar suas questões, sozinha. Quando percebe que não está dando conta do seu emocional e ele está superando seu racional, começa a existir uma necessidade e um conflito entre ir e resistir. Essa dúvida fica batendo na cabeça, até que num impulso a pessoa procura um profissional, marca uma consulta. Muitas vezes, acaba esquecendo e não vai, remarca. Aí vai! Uma decisão difícil de assumir. Com certeza, muito difícil!  Algo desconhecido, que falam que ajuda, mas que eu não sei nem como começar a falar. Depois vem uma ponta de desconfiança. Falar de si mesmo, nem se sabe bem o que, para uma pessoa que ele nunca viu na vida. Estabelecer uma relação de confiança pode levar um tempo razoável. O paciente fica com a sensação, às vezes, de que está perdendo tempo, que nada acontece. Mas já está acontecendo, sem ele perceber. Como um bebê numa incubadora. Tudo vai se desenvolvendo quase que imperceptivelmente. Mas, como no mundo de hoje todo mundo tem pressa e quer resultados imediatos, a sensação é que isso não funciona. Como levar 3 ou 4 meses para reorganizar uma estrutura que levamos 20, 30, 40, 50, 60, 70 anos para sedimentar? Mesmo na vida prática não funciona assim. Um bolo no forno tem seu tempo para crescer.

Com essa divulgação da psicologia temos hoje diversos tipos de profissionais atuando como psicoterapeutas. Como trabalhamos com a pessoa no momento de maior fragilidade, ela muitas vezes, fica sem condições de avaliar a competência e as credenciais do profissional que cuidará dela. Como em toda profissão temos diferenciais importantes que fazem de um profissional apto ou não para lidar com pessoas em situações críticas. Isso é de extrema importância. Quem já não recebeu em casa aquele eletricista que você vê que está fazendo “gambiarra” e ele o convence que está fazendo o melhor serviço do mundo? Você paga uma nota, ou paga barato, e daqui um tempo está tudo lá para ser feito de novo, porque parou de funcionar. Só que os fios não sentem, e pessoas sim. Uma má condução do processo psicoterápico pode trazer consequências desastrosas para a vida da pessoa, muitas vezes, sem que ela perceba. A questão é séria. Isso pode gerar um bloqueio na pessoa e pode levá-la a nunca mais confiar num profissional da área, num psicólogo. Digo psicólogo, sim! Pode ser que ela não tenha sido atendida por um, mas se distanciará de qualquer deles por pensar que ninguém mais poderá ajudá-la.

A formação do profissional é muito importante. Um psicoterapeuta é um profissional estudioso da psique humana. O psicólogo estuda o desenvolvimento emocional durante cinco anos e depois se especializa em diversas áreas. O psicanalista é uma especialidade da psicologia. Como psiquiatra é uma especialidade da medicina. Tem muitos cursos que formam psicanalistas sem que eles sejam psicólogos. Um curso de especialidade e não de graduação como uma faculdade de psicologia. Um psicoterapeuta com uma ampla formação cursou psicologia, faz especializações, faz pós-graduação, faz supervisões, vai a congressos, estuda muito, faz a sua própria terapia. Isso por toda vida profissional, pois quanto mais se estuda, mais se vê o quanto não se sabe.

Quando um profissional da saúde comete um erro com seu paciente, as consequências são visíveis. Não que um profissional não possa falhar, mas ele tem que saber da extensão do seu conhecimento para não assumir o que não tem alcance para cuidar. Como é sabido, nem todos tem essa consciência.  O trauma de uma psicoterapia mal conduzida se sobrepõe a outras feridas mal curadas que acompanham o paciente, e que estão ali latejando faz uma vida. Essa outra ferida por cima dói e sangra mais. A esperança no processo se desfaz e bons profissionais que poderiam ter conduzido o paciente por outros caminhos, ficam sem poder fazer nada diante desse quadro. A pior coisa que pode acontecer para um ser humano é ele perder a esperança de encontrar um caminho para aplacar suas angústias. É deixar de acreditar que alguém possa realmente estar ao seu lado. É matar a possibilidade de confiar. Por isso, a escolha do profissional é coisa séria.

Tem um ditado que diz: O que é barato sai caro. Não escolher o profissional pelo preço das sessões, mas pela sua formação e reputação. Psicoterapia não é a venda da promessa de felicidade em pouco tempo, mas um processo de amadurecimento dolorido que requer do psicólogo um respeito imenso ao sofrimento do outro, uma relação de sustentação e confiança para que alguma coisa possa acontecer de verdade.

 

Texto de: Astrid Da Rós.