No texto Inibições sintoma e ansiedade” (FREUD, 1976a) dos aportes da segunda tópica, aprendemos como, diante do sentimento de culpa e da pulsão de morte, é a fobia que melhor explicará as relações entre a angústia/ansiedade e o sintoma. É a fobia que consegue realizar o compromisso de satisfação esperada entre a reivindicação pulsional e a organização do Eu. Surge, então, a inibição, que Freud definiu como uma limitação que o Eu impõe para não despertar o sintoma da angústia. Dito de outro modo, criada a ilusão que o sujeito tem de conhecer a origem do seu mal, pela função de ligação da excitação libidinal, o sintoma torna-se inútil e, portanto, a manifestação da angústia com relação com o verdadeiro perigo pulsional.

Falando de outro modo: uma criança ou adolescente e adulto quando fala de uma fobia deslocada para um objeto externo ( um cachorro, uma pessoa, uma situação) está de uma certa forma descarregando neste objeto uma angústia que internamente não pode entrar em contato porque é supostamente perigosa para o Ego. A angústia interna foi deslocada para fora, e está ali através do sintoma.
Temos o sintoma como sendo “uma resposta a uma satisfação insuportável”. (Machado, 2003, p. 3). Que de uma certa forma tende a “equilibrar” o desconforto. Mas não, percebemos que este movimento aumenta ainda mais a sensação de sofrimento.

Verificamos que o sintoma, a angústia ou a inibição conduzem o sujeito ao desamparo diante de si mesmo, à uma impotência de manter o controle e usar seu poder egoico para obter descargas mais favoráveis.
E como é difícil para nós seres humanos reconhecermos que mesmo dentro da nossa própria casa interna há outros hospedes que exercem um determinado poder, e que hora ou outra,ficamos reféns e submissos. Reconhecer nossa impotência, nossa falta, nosso des-controle e nossa angústia diante dos desamparos.

Acontece que o sujeito em determinada medida acaba identificado adesivamente com seus sintomas, torna-se aprisionado, e este movimento que aparece na repetição/compulsão. O sintoma acaba exercendo um poder sobre o sujeito e ele fica submisso, escravo deste poder a ponto de ficar cada vez mais difícil de sair desta encrenca e respirar des-colado dele.

A saída é acabar com o sintoma? Essa é a cura?

O modelo da medicina tradicional que trata a doença como ausência de saúde e presença de sintomas, não corresponde a essa visão psicanalítica dinâmica do conflito como componente essencial do humano.
A redução de sintomas não é considerada critério suficiente, pois estes são mutantes, alguns são úteis, outros fazem parte de defesas importantes.

Talvez seja prudente utilizar o termo cura, para a psicanálise, no sentido que indica amadurecimento,maturação em diferentes estágios de um processo. Pensar a cura na psicanálise como um processo que promove transformações de diferentes tipos em cada indivíduo, incluindo o analista, sob condições específicas.

De maneira geral, podemos pensar cura em psicanálise como o conjunto de aspectos, tais como: redirecionamento da energia pulsional investida no sintoma para atividades prazerosas e criativas; mudanças significativas e duradouras na forma de viver as emoções e as relações; plasticidade psíquica no uso de mecanismos de defesa; e ampliação da tolerância ao desamparo e frustrações consigo e com os outros, e que os potenciais criativos e afetivos possam ficar visíveis e disponíveis.

 

“Enquanto vivos, capacidade para suportar a posição entre necessidade do ser e a absurda inconsistência da vida”. Sartre.

Caroline Gouvêa
CRP04/25492
Psicanálise/ Saúde Mental e Atenção Psicossocial
www.carolinegouvea.com