Uma breve análise do filme: Barbie.

Caroline Gouvêa S. Wallner*- 25/08/2023

Barbie se depara com o encontro com a realidade/verdade, e diz: “Já pensaram na morte?”. E outra Barbie responde: – “A vida real?” Neste momento acontece um desconforto, uma catástrofe na mente, pois a realidade/verdade fura a ilusão do mundo egocêntrico, perfeito, mega-positivista, sem sofrimento, dor, e esforço. E a resposta da Barbie “estereótipo”, tentando consertar: – “Morta de vontade de dançar!”

A partir daí acontece a entrada da realidade/verdade neste campo da ilusão, onipotente de que tudo é lindo, maravilhoso, certo, perfeito e belo.  O que pode ser no mundo da ilusão, mas no mundo da realidade/verdade não é bem assim que as coisas acontecem.

Barbie até verbaliza estar triste, deprimida, em pânico, usando palavras e experimentando sensações que não faziam parte do seu mundo, o mundo da ilusão.

E a história vai mostrando que de uma certa forma, uma determinada quantidade de fantasia e ilusão são necessários para ativar a criatividade, aliás, foi assim que a criadora da Barbie, aquela que sonhava e a desenhava, foi perdendo sua criatividade, seu brilho no olhar e vitalidade. Ela foi perdendo a vontade e desejo de “brincar”, de sentir o prazer, de sonhar e se divertir. Ficou apagada e sem brilho. Isso se refletiu em todos os campos da sua vida, no trabalho, na relação com sua filha, entre outros. Talvez neste momento ela tenha ficado mais presa no mundo da realidade, foi levando a vida de forma séria demais, mais rígida consigo e com os outros,  e não conseguiu conciliar os dois mundos.

E no decorrer do filme isso vai acontecendo, uma tentativa de todos os personagens conciliarem os dois mundos.

Os clãs aparecem, Ken faz o mesmo movimento exclusivo, egocêntrico e onipotente da Barbie, a fim de competir e disputar um lugar exclusivo. Não existe o meio termo, o um e  o outro, neste campo da onipotência, ou é um ou o outro, os dois não podem conviver no mesmo espaço.

No final do final, Barbie diz: -“Eu não sei quem eu sou mais entre tantas outras de mim, todas são eu mesma, apesar de uma diferença, mas são todas Barbie’s. Preciso saber quem eu sou!”. Quem é A Barbie?  Eis a grande pergunta de todos nós: quem eu sou?

Até com o Ken, ela diz: É  Barbie e Ken, um só, e não, A Barbie e O Ken!” Dá a impressão que ela vai buscando sua individualidade além do outro, um e o outro, e não os dois como um só. E quando isso acontece, essa cola, quase que uma simbiose numa relação, onde um se torna a extensão do outro, sem um limite, as pessoas se perdem, não conseguem mais se reconhecer independente do outro. É como se ficasse um vazio quando o limite se instaura.

Vamos nos deparando com isso o tempo todo, toda vez que caímos neste campo de uma unicidade absoluta, somos um só e não dois, algo é sacrificado, um mundo é excluído.

 O brincar estimula o campo do pensar, da fantasia, da imaginação, faz com que projetemos no brincar a realidade que não podemos dar conta. Brincamos de bater os carrinhos, para não batermos no coleguinha e por aí vai. O brincar e a realidade, os dois juntos nos auxiliam para desenvolvermos  e ampliarmos os recursos psíquicos necessários para andar nos dois campos. Triste é aquele que só sabe brincar o tempo todo, e aquele que só fala verdades ficando preso num destes campos o tempo todo. O excesso e a exclusão de um ou outro é o que adoece. Brincando podemos até dizer a verdade!

É  dar a mão para os dois mundos, conseguir até colocar um pé lá e outro cá.

O adoecer acontece quando ficamos presos: ou só no mundo da ilusão, ou só no mundo da realidade. É aprender a ganhar e perder, e saber que isso faz parte! Prazer e desprazer ao mesmo tempo.

É aprender que podemos brincar/fantasiar e também levar as coisas à sério. Dá para se divertir e falar a verdade. Dá para rir e chorar. Mas rir de tudo o tempo todo pode ser desesperador, assim como chorar o tempo todo.

Tirando a parte de sugestionar o filme para o campo político, achei bem interessante.

Caroline Gouvêa

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