O inconsciente não existe sozinho – Freud não explica… Freud implica!
A Psicanálise segue então no sentido dos efeitos de surpresa que experimentamos diante do que fazemos, exatamente essas surpresas que nos sentimos obrigados a dizer:
“Essa(e) não fui eu!”,
“Não era eu naquela hora!”,
“Como pude fazer isso, meu Deus?”,
“Não é possível que eu tenha feito isso!”.
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Freud não inventou o inconsciente! Antes dele já se falava em inconsciente, assim como seu uso não se restringe à Psicanálise.
A ideia de inconsciente já existia antes mesmo desses teóricos que você cita, mas ele existia como um lugar abaixo da consciência, ou como uma outra face da mesma. O inconsciente começou a ser investigado mais a sério por Charcot, com o estudo dos casos de HISTERIA. Histéricos eram aquelas pessoas que apresentavam algum sintoma( como paralisia ), mas que a medicina da época não conseguia encontra a lesão referente ao sintoma, o que as fazia classificar a histeria como fingimento.
Qual a relação da Hipnose com o Inconsciente e a histeria?
Charcot usa esse método para investigar a histeria. Ele hipnotizava os pacientes, o que baixava as suas defesas conscientes, sendo assim ele investigava os sintomas para conhecer a etiologia da doença. Se o paciente tinha tremedeiras parava de tremer, quando estava não consciente. Isso prova que, além de não ser um fingimento, a causa da doença não era orgânica, mas psicológica, pertencente a outros tipos de pensamentos, que não faziam parte da consciência, e a esses pensamentos dar-se o nome de inconsciente.
Então não é que Freud e Breuer tenham descoberto o inconsciente, eles tinham acesso indireto ao mesmo através da Hipnose. Mas foi apenas Freud que levou esses estudos mais a fundo, postulando o que ele veio a chamar de APARELHO PSÍQUICO, e todas as suas instâncias. Trocando em miúdos, a hipnose era uma via de acesso a pensamentos inconscientes recalcados ao longo da vida, por vergonha, essa é a relação mais clara entre HIPNOSE e INCONSCIENTE.
DIFERENÇAS DE MÉTODOS.
É preciso esclarecer uma coisa: Freud não criou nenhum método próprio de Hipnose, ele apenas utilizou os método CATÁRTICO de Breuer e a SUGESTÂO de Benhain.
A intenção do método catártico era de que o paciente pudesse descarregar o afeto ( sob Hipnose ) ligado ao acontecimento traumático, essa descarga ocorria por meio de choros e gritos, por exemplo. Depois disso, quando a paciente recebia a ordem para voltar a consciência, o sintoma desaparecia.
O método de Charcot, ao contrário do de Breuer, não tinha fins terapeuticos, mas apenas investigativo. Ele não se interessava pela cura do histério, mas pelo conhecimento dos fatores psicológicos desencadeadores do sintoma.
Assista ao filme : Freud, além da alma. Mostra Charcot demonstrando o método investigativo pela Hipnose, e Breuer tratando uma paciente pelo método catártico.
Cena do filme com Charcot em sua aula:
Cena de Breuer usando o método catártico:
O que diferencia o inconsciente proposto por Freud?
Aprendemos desde cedo na faculdade de psicologia, ou em alguma formação em psicanálise, que o inconsciente se manifesta através dos sonhos, atos falhos, chistes e lapsos. Bastaria alguém trocar um nome, esquecer outro, ter sonhado, e pronto, isso seria o inconsciente se “comunicando”.
É aqui que entra o diferencial do inconsciente freudiano. Todas estas manifestações serão pura fenomenologia (que não é psicanálise) a não ser que o sujeito se responsabilize por elas. Somente quando uma manifestação é levada para um status de questão, que pode ser considerada uma manifestação do inconsciente. Ou seja, o inconsciente se estabelece na clínica dentro de uma relação transferencial entre analisando e analista.
“Então quer dizer que se troquei um nome, ou sonhei, não significa que isso seja o inconsciente?”. Sim e não. Por um lado sim, aqui está o inconsciente em sua dinâmica própria, mas ao mesmo tempo não, pois, se não há responsabilidade do sujeito em reconhecer aquilo como um produto em que ele é agente, simplesmente se perde como “destino”, como “coisas da vida”, etc.
Para esclarecer:
“Uma regra de pensamento que tem que se assegurar do não -pensamento como aquilo que pode ser sua causa: é com isso que nos confrontamos ao usar a ideia de inconsciente.
É somente na medida do fora-de-sentido dos ditos – e não do sentido, como se costuma imaginar e como se supõe toda a fenomenologia – que existo como pensamento. Meu pensamento não é regulável a meu bel-prazer, acrescentemos ou não o infelizmente. Ele é regulado. Em meu ato, não almejo exprimi-lo, mas causa-lo. Porém não se trata do ato, e sim do discurso. No discurso, não tenho que seguir sua regra, e sim encontrar sua causa. No entre-senso – entendam isso, por mais obsceno que possam imaginá-lo – está o ser do pensamento.
O que é causa, ao passar pelo meu pensamento, deixa passar aquilo que existiu, pura e simplesmente, como ser. Isso porquê, ali por onde ela passou, ela já é desde sempre passada, produzindo efeitos de pensamento.” – Lacan, Seminário 16, p. 13
Onde a fala tropeça, e o sujeito se desconhece, se estranha, se pergunta, aqui está o seu inconsciente, que encontrará suporte no analista em seu semblante de Sujeito Suposto Saber por carregar o “objeto a” no bolso.
Freud não explica… Freud implica!
Fonte: Academia Freudiana