A melancolia, a ansiedade e o luto

Por: Caroline Gouvêa*

              O luto foi uns dos temas  que a psicanálise abordou com muita propriedade. Segundo Freud, o efeito de uma perda pode ser parecido com o que foi designado na antiguidade por melancolia, hoje chamada de depressão. É importante considerar a diferença entre o luto natural ( há um objeto perdido), e a melancolia ( não há um objeto perdido). Na melancolia o sujeito não sabe o quê perdeu, mas sente um vazio imenso, nela, pode-se reconhecer que existe uma perda de natureza mais ideal. 

No luto, verificamos que a inibição e a perda de interesse são plenamente explicadas pelo trabalho do luto no qual o ego é absorvido. Na melancolia, a perda desconhecida resultará num trabalho interno semelhante e será, portanto, responsável pela inibição melancólica. A diferença consiste em que a inibição do melancólico nos parece enigmática porque não podemos ver o que é que o está absorvendo tão completamente. O melancólico exibe ainda uma outra coisa que está ausente no luto uma diminuição extraordinária de sua auto-estima, um empobrecimento de seu ego em grande escala. No luto, é o mundo que se torna pobre e vazio; na melancolia, é o próprio ego. O paciente representa seu ego para nós como sendo desprovido de valor, incapaz de qualquer realização e moralmente desprezível, ele se repreende e se envilece, esperando ser expulso e .punido. Degrada-se perante todos, e sente comiseração por seus próprios parentes por estarem ligados a uma pessoa tão desprezível. Não acha que uma mudança se tenha processado nele, mas estende sua auto-crítica até o passado, declarando que nunca foi melhor. Esse quadro de um delírio de inferioridade (principalmente moral) é completado pela insônia e pela recusa a se alimentar, e o que é psicologicamente notável por uma superação do instinto que compele todo ser vivo a se apegar à vida. 

               A pessoa pode se recolher em  um mundo denominado “exclusivamente seu”, um sofrimento mórbido com acontecimentos do passado, os quais se apresentam com outros sintomas que podem eclodir fisicamente.  Segundo Freud, um indivíduo desolado pode ser considerado “doente” quando não se sabe a causa de seu comportamento. Sabe-se, nos dias atuais, que podemos enfrentar a perda de diversas maneiras e se faz necessário identificar o momento considerado patológico:

 Existem dois tipos de tristeza;

                  Quando o homem se preocupa com os infortúnios que o assolaram, quando ele se recolhe a um canto e  anseia por ajuda, essa é a espécie ruim de tristeza, pois na grande maioria das vezes, o sujeito não sabe dizer sobre o quê perdeu. Ou esse se trata de algo idealizado. 

                   O outro tipo de tristeza é o pesar genuíno do homem que perdeu a casa (objeto real) num incêndio,que sente a sua carência no fundo da alma e começa a reconstruí-la. 

                    Quando experimentamos a perda do emprego, de um bem, de alguém por morte ou mudança, grandes são as chances de entrarmos em um quadro depressivo, de lamentações, luto e dores que esmagam a alma e a mente. São muito dolorosos os sentimentos de perda e a experiência do luto. Todos já passamos por experiências diversas em relação à perda no decorrer da vida. São diversas as  formas de identificar a dor da perda e diante da dor dos seres humanos tem apostado no excesso e abuso do álcool, do cigarro, trabalho em excesso, compulsividade sexual e até o isolamento voluntário. Tudo isso como uma forma de não ver ou sentir a dor e o sentimento oriundo da “culpa”. Não é possível se  afastar da dor sem pagar um preço, mas inevitavelmente ela tem que ser enfrentada, assim o fardo que carregamos durante a vida pode ser mais leve.

Ao explicar o conceito em Luto e Melancolia, Freud (1915) o entende como uma reação à perda, não necessariamente de um ente querido, mas também, algo que tome as mesmas proporções, portanto um fenômeno mental natural e constante durante o desenvolvimento humano. Para o autor, no luto, nada existe de inconsciente a respeito da perda, ou seja, o enlutado sabe exatamente o que perdeu. Além disso, o luto é um processo natural instalado para a elaboração da perda, que pode ser superado após algum tempo e, por mais que tenha um caráter patológico, não é considerada doença, sendo assim, interferências tornam-se prejudiciais.

O luto é um processo lento e doloroso, que tem como características uma tristeza profunda, afastamento de toda e qualquer atividade que não esteja ligada a pensamentos sobre o objeto perdido, a perda de interesse no mundo externo e a incapacidade de substituição com a adoção de um novo objeto de amor (FREUD, 1915).

                         Freud dizia que ,  a ansiedade segue o mesmo caminho e deriva-se de conflitos subjacentes. No entanto a única forma de se livrar da ansiedade patológica seria resolver os conflitos inconscientes. Cumpre à psicanálise descobrir quais eram os transtornos que o paciente desencadeava ao não solucionar os problemas recalcados durante os estágios do seu amadurecimento. Freud percebeu que os conflitos derivavam-se de problemas enraizados na infância e, consequentemente, de caráter inconsciente. Como já foi dito, Freud usava a técnica da fala e a cura poderia ser resultado da sublimação, da racionalização ou mesmo da projeção. Uma outra técnica usada por Freud,  é da interpretação dos sonhos: por carregarmos conflitos tão intensos Freud acreditava que a sublimação não era totalmente eficiente. No entanto acreditava-se que o ego e superego durante o sono estaria relaxado e, por conseqüência, o conteúdo ameaçador no inconsciente afloraria através dos sonhos. Acreditava-se que a ansiedade era originada de fatores externos, mas em sua maioria, tinha componentes internos. Portanto a interpretação dos sonhos era o caminho mais propício no intuito de se chegar à raiz do conflito que assolava o ser humano.

Fontes:

Imagem: SONY DSC

http://www.spectrumgothic.com.br/gothic/luto.htm

http://consultoriodamente.com/index.php?option=com_content&view=article&id=122:a-melancolia-a-ansiedade-e-o-luto-&catid=27:salas-de-leitura&Itemid=53

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Caroline Gouvêa S. Wallner- Psicóloga Clínica desde 2006, pelo CES/JF, CRP04/25492. Estuda, vive e pratica a psicanálise há 16 anos, Especialista em Saúde Mental e Atenção Psicossocial pela Estácio de Sá. Pesquisadora em casos de Depressão e Ansiedade. Atende Adolescentes e Adultos. carolinegouveapsi@gmail.com