“Quanto mais uma pessoa ficar ocupada com aquilo que ela quer que aconteça e com aquilo que aconteceu, ou aquilo que ela sabe sobre o paciente ou sobre a psicanálise, no caso do analista, menos espaço sobra para a incerteza.” Bion, 1978
Constatar o imaginado/ “esperado”, isso comumente ocorre na espera de resultados de exames médicos, e de resultados de concursos, juntando-se a certo imediatismo com respostas e definições de situações, sendo uma das queixas sobre a “demora da análise” em produzir os efeitos desejados.
Para Janine Puget, “o não esperado resulta intolerável. Defensivamente isso gera a ideia, por vezes a convicção, de que se espera o esperado” (2013, p. 01).
Como Janine lembra no mesmo trabalho, a expressão “Esperava que acontecesse isso ou aquilo…”, contém em geral uma censura, ou crítica, certa decepção com o outro e com a realidade: não esperava isso!). Vale como alerta para nós terapeutas não fazermos o mesmo e cairmos nesta armadilha de ocupar o imaginário do outro.
“No que respeita ao nosso trabalho, é um obstáculo sustentar a hipótese de que o dispositivo analítico pensado como estável outorga o direito de crer-se possuidor de um conhecimento do outro” (PUGET, J., 2013, p. 02).
Ela atribui um lugar específico ao espaço analítico, onde a espera do inesperado deveria estar sempre em atividade.
Bion nos ajuda a pensar: “Quanto mais uma pessoa ficar ocupada com aquilo que ela quer que aconteça e com aquilo que aconteceu, ou aquilo que ela sabe sobre o paciente ou sobre a psicanálise, menos espaço sobra para a incerteza” (BION, W. R., 1978, 1980, p. 108).
Isso vale para a incerteza interna e para a incerteza externa.
Menos espaço para a incerteza logo menos criatividade, menos intuição, menos desejo de buscar, mais pensamento rígido e cristalizado gerando mais sofrimento.
O peso do deve ser, do como ser e estar, da fidelidade ao passado, daquilo que vem de alguma outra parte, dificulta ou evita tomar contato com o presente, com o imprevisível dos encontros (PUGET, 2007, 2015).
“… será que poderemos apanhar o germe de uma ideia e plantá-lo onde possa começar a se desenvolver até que a ideia esteja suficientemente madura para nascer?” ( Bion 1978 – 1980, p. 181).
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Caroline Gouvea
CRP04/25492
Psicanálise, Saúde Mental e Atenção Psicossocial
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