Por: Caroline Gouvêa Silva Wallner
A primeira e maior novidade do Sistema Único de Saúde é seu conceito de saúde.
“Precisamos compreender e olhar para a SAÚDE como o completo bem-estar físico , mental e social, e não apenas como AUSÊNCIA de doença”. OMS em 1946
Esse conceito é muito complexo, com isso houve a necessidade de ampliar o conceito de saúde. Esse “conceito ampliado de saúde”, resultado de um processo de embates teóricos e políticos, traz consigo um diagnóstico das dificuldades que o setor da saúde enfrentou historicamente e a certeza de que a reversão deste quadro extrapolava os limites restritos da noção vigente.
Encarar saúde apenas como ausência de doenças evidenciou um quadro repleto não só das próprias doenças, como de desigualdades, insatisfação dos usuários, exclusão, baixa qualidade e falta de comprometimento profissional.
“Ao lado do conceito ampliado de saúde, o Sistema Único de Saúde traz dois outros conceitos importantes: o de sistema e a idéia de unicidade. A noção de sistema significa que não estamos falando de um novo serviço ou órgão público, mas de um conjunto de várias instituições, dos três níveis de governo e do setor privado contratado e conveniado, que interagem para um fim comum.
Na lógica do sistema público, os serviços contratados e conveniados são seguidos dos mesmos princípios e das mesmas normas do serviço público. Os elementos integrantes do sistema referem-se, ao mesmo tempo, às atividades de promoção, proteção e recuperação da saúde.
Esse sistema é único, ou seja, deve ter a mesma doutrina e a mesma forma de organização em todo país. Mas é preciso compreender bem esta idéia de unicidade.” Em um país com tamanha diversidade cultural, econômica e social como o Brasil, pensar em organizar um sistema sem levar em conta essas diferenças seria uma temeridade.”
Dificuldades e Desafios: analisando este conceito “amplo” de saúde, como se fosse um estado absoluto acaba por não incluir o sujeito como único e particular dentro da sua singularidade. Aquilo que significa saúde para mim, pode ser diferente do significado que o outro tem sobre saúde. Desta forma podemos pensar a saúde com uma escuta e olhar subjetivo, no um a um, no caso a caso, e não como um conceito generalista e universalista. A saúde então estaria direcionada para como cada pessoa lida com as dificuldades, seja ela física, metal ou social.
O pensamento comum é que saúde é o contrário de doença, e não é. Todos nós somos sadios e doentes ao mesmo tempo.
Refletindo sobre uma das Diretrizes do Sistema Único de Saúde, a Integralidade, onde envolve as ações de promoção, proteção e reabilitação da saúde , as mesmas não podem ser fracionadas, sendo assim, os serviços de saúde devem reconhecer na prática que: se cada pessoa é um todo indivisível, singular, particular, com escolhas próprias e subjetivas, e integrante de uma comunidade, as ações de promoção, proteção e reabilitação da saúde também não podem ser compartimentalizadas, assim como as unidades prestadoras de serviço, com seus diversos graus de complexidade, configuram um sistema capaz de prestar assistência integral. A assistência integral olhando o sujeito como um todo, e não em partes. Se a intensão da assistência é prevenir no cuidado básico para que este não necessite atingir o atendimento de alta complexidade, olhemos para o sujeito como um todo, desde o atendimento básico, e cuidemos da saúde com uma escuta mais subjetiva, e não são somente objetiva visando apenas a cura e a promoção dos sintomas. Medicar não significa curar.
Cada indivíduo é único, singular, particular e com um funcionamento dinâmico, portanto como classificá-lo com apenas um nome no sentido médico do DSM e trará-lo apenas visando os sintomas e não a causa? Com isso podemos refletir sobre a medicalização desenfreada. Medicar gera lucro, curar ou estar bem adaptado na sociedade, mesmo com seus sintomas, gera prejuízo para o universo psicofármaco.
“Nesta busca por um alívio imediato dos sintomas, constata-se que cada vez mais pessoas depositam sua confiança em receitas rápidas que possam diminuir o mal estar sem se preocupar em buscar um sentido para este sofrimento. A medicalização da vida e do sofrimento tornou-se uma prática comum e na atualidade tornou-se corriqueiro ir a uma consulta e sair com uma receita em mãos. Segundo Roudinesco (2000) há um pagamento do sujeito, pois seja qual for o sintoma, sempre haverá um medicamento a ser receitado: Cada paciente é tratado como um ser anônimo, pertencente a uma totalidade orgânica. Imerso numa massa em que todos são criados à imagem de um clone, ele vê ser-lhe receitada à mesma gama de medicamentos, seja qual for o seu sintoma. (ROUDINESCO, 2000).”
“Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso.
Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro”.
Clarice Lispector.
A experiência clínica psicoterápica mostra que a cura é um processo de superação de barreiras impostas por cada sujeito em si mesmo, assim a necessidade de olhar o sujeito como subjetivo, singular e particular e que saúde e doença convivem juntas dentro de cada um.
Indico o livro para leitura: O que é Saúde? Naomar de Almeida Filho, Rio de Janeiro, Editora Fio Cruz,2011.
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Referências:
Fonte:http://www.portaleducacao.com.br/medicina/artigos/38572/sus-principios-e-diretrizes
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Caroline Gouvêa S. Wallner- Psicóloga Clínica desde 2006, pelo CES/JF, CRP04/25492. Estuda, vive e pratica a psicanálise há 16 anos, Especialista em Saúde Mental e Atenção Psicossocial pela Estácio de Sá. Pesquisadora em casos de Depressão e Ansiedade. Atende Adolescentes e Adultos. carolinegouveapsi@gmail.com