Por: Caroline Gouvêa ( Caroline Gouvêa S. Wallner) 20/06/2016

O sujeito chega ao consultório cheio de dúvidas e demandas, e  a sua demanda inicial é que resolvamos isso imediatamente. Quando ele diz: que resolvamos, no sentido ( eu + você ( analista)), o sujeito que sofre não se implica com aquilo que ele demanda. Ele faz um pedido para o analista dar uma orientação, uma resposta, uma alternativa para o sujeito resolver sua questão. Os pacientes chegam ao consultório com algumas perguntas e exigem uma resposta imediata:

– “Não sei mais o que faço com meu filho(a). O que devo fazer?“

– “Meu filho não dorme, o que preciso fazer para ele dormir?

-“Está na hora de tirar a fralda do meu filho(a)? Como faço?”…

Entre outras:

-“Estou insatisfeito no meu emprego. Devo ou não devo sair?

-“Quero morar em outro país. Vou ou fico? O que você acha que devo fazer?”

Se o analista ou o terapeuta cair neste jogo, o sujeito que busca ajuda, o paciente, direcionará a responsabilidade da ação para o terapeuta, e ou analista.

Nao existe receita de bolo para encontrar uma saída para sua dúvida, para seu sofrimento.

Os sintomas externos, esses que você sabe descrever muito bem, podem ser parecidos quando pensamos num nome que defina estes sintomas, mas daquilo que realmente o sujeito sofre, seus sintomas internos, àqueles que apenas o próprio sujeito nomeará e dará o sentido, esses são individuais, particular e muito singular para cada pessoa. Se o analista e o paciente tiver paciência, e neste momento lembro de Lacan quando se refere ao tempo da elaboração, o tempo para o próprio sujeito concluir, a análise pode ser bem sucedida.

O analista precisa estar muito atento aos pedidos do sujeito que busca ajuda. E também diferenciar demanda de desejo.

Se o analista responde neste lugar de orientar o paciente nas suas decisōes e traduzir, o sujeito sempre fará esse pedido ao analista. Desta forma o sujeito colocará o analista como dependente das sua açōes, a culpa se algo der errado ou não funcionar será do analista, e não do sujeito. Se o analista cair neste lugar, neste lugar da moral, o sentido da análise será perdido, pois as respostas serão apropriadas para o analista e não para o paciente. Assim o sujeito continuará passivo diante do seu sofrimento.

Toda escolha implica em um risco, em ganhar e perder. Você perde algo aqui para ganhar algo alí. Mas será que você está disposto a perder, ou ganhar?

A análise busca fazer com que o sujeito faça as suas próprias escolhas, tome suas decisōes e se responsabilize por elas. Como? Se apropriando daquilo que é seu, mas o sujeito em análise ainda não sabe que sabe, mas ele sabe. Temos um impasse: eu quero mas não posso. Eu sei o que devo fazer, mas… e se der errado?

Às vezes é dificil achar uma saida diante do sofrimento, principalmente achar uma saída sozinho, no sentido de se apropiar do que ė seu, sem demandar ao Outro um lugar de resposta. Mas quando em transferência com um analista, esse por sua vez, nomeará através da interpretação aquilo que está alí , latente, aquilo que é do sujeito.

Lembro também que interpretar não é traduzir. Traduzir seria apontar um caminho certo, dar uma resposta para aquela pergunta que todo sujeito que busca ajuda faz. E com isso, novamente , se o analista cair neste lugar da tradução, o sujeito permanecerá inapropriado de si mesmo.

Muitas vezes o sujeito que busca ajuda entende a interpreção do analista como uma orientação, como sentido, um sentido correto a fazer . O analista apenas orienta, no sentido de dirigir, a análise. Há uma diferença entre interpretar e orientar. O inconsciente se defente deslocando as idéias, associando com outras, disfarçando algo que já está ali, e o camufla para “não“ ser encontrado. Ops, “não ser encontrado?… O analista deve estar atento para essas pistas deixadas pelos mecanismos de defesa para ser achado. É o sem querer querendo.

Portanto interpretar é fazer emergir ( ou liberar, desembaraçar) aquilo que está latente na fala e nas condutas do paciente. Segundo a concepção freudiana, a interpretação visa essa liberação do sentido latente que estaria presente na fala do paciente durante a sessão analítica, explicitando o conflito defensivo ligado ao desejo inconsciente. Este modelo é teorizado na Interpretação do sonho (Freud, 1900/2004). “A psicanálise transforma o aparelho psíquico em aparelho de linguagem”. Grenn, 2002

Na clínica psicanalítica levamos o sujeito a se apropriar daquilo que é seu, daquele conteúdo que está latente, daquilo que ele não sabe que sabe, mas sabe. O analisando é o responsável pelas suas escolhas. E a proposta da análise é o sujeito perceber que ele é livre para fazer suas escolhas, e que ele pode e consegue assumir as consequências de cada escolha.

A psicanálise é para todos aqueles que decidem e suportam se virar com as suas próprias escolhas do seu desejo. É para todos que desejam entrar em análise e se apropriar daquilo que é seu. Em psicanálise o analista não lhe dará respostas, ele conduzirá as perguntas para você se apropriar das suas respostas.

Sobre a autora:

Caroline Gouvêa S. Wallner- Psicóloga Clínica desde 2006, pelo CES/JF, CRP04/25492. Estuda, vive e pratica a psicanálise há 16 anos, Especialista em Saúde Mental e Atenção Psicossocial pela Estácio de Sá. Pesquisadora em casos de Depressão e Ansiedade. Atende Adolescentes e Adultos. carolinegouveapsi@gmail.com

Terapeuta Psicanalista Terapeuta Psicanalista Terapeuta Psicanalista Terapeuta Psicanalista Terapeuta Psicanalista