Por: Caroline Gouvêa S. Wallner *– Psicóloga CRP04/25492, especialista em Saúde Mental e Psicanálise

 

“Para garantir a qualidade de vida no trabalho, a organização precisa preocupar-se não apenas com o ambiente físico da organização, mas também com os aspectos psicológicos e físicos de seus funcionários”. 

O que mantém uma organização funcionando são as pessoas( os recursos humanos):  colaboradores ou clientes, e ambos podem levar uma empresa ao sucesso ou ao fracasso.

O que significa a palavra trabalho?

Trabalho: meio de vida; forma de sustento da família; razão e sentido da existência; possibilidade de ser útil aos demais e de contribuir com a coletividade. Uma forma de geração de riqueza e desenvolvimento individual e social. Essas são apenas algumas das designações que o trabalho pode receber, todas muito nobres e dignificantes. Visões muito distantes, porém, da triste realidade que, em contraponto, vem tomando cada vez mais corpo no mundo atual do trabalho. O número de pessoas que adoecem psicologicamente por causa do trabalho aumenta a cada dia.

Pela sobrevivência, trabalhadores estão perdendo a saúde mental. Elementos como assédio moral, excesso de competitividade, baixa remuneração, acesso restrito a qualidade de benefícios, e ambientes com condições indignas de trabalho têm gerado sérias doenças psicológicas como : depressão, estresse, transtornos de ansiedade, síndrome do pânico, síndrome de burnout e fibromialgia. Empresas com receio de aumentar custos e diminuir a produtividade escondem o problema e mantêm a lei do terror. Para essas empresas: “Trabalhador tem que pagar o que vale, não importa o custo psicológico disso.”

“Há evidências que se apoiam em dados científicos robustos de que a precarização das condições de desempenho laboral das classes trabalhadoras ocorridas nas últimas décadas joga um relevante papel no aumento da ocorrência dos transtornos ansiosos e de estresse, em âmbito mundial”, explica o doutor do Departamento de Neuro­ciências e Saúde Mental da Universidade Federal da Bahia (UFBA), William Azevedo Dunningham.

Um Estudo apresentado no novo boletim sobre benefícios por incapacidade – Doenças motivadas por fatores de riscos ergonômicos – tais como má postura e esforços repetitivos – e sobrecarga mental, têm sido as principais causas de afastamento do trabalho. O dado foi apresentado no Boletim Informativo Quadrimestral sobre Benefícios por Incapacidade, lançado em abril de 2014 pelo Ministério da Previdência Social.

Constatou-se que de 15% a 28% dos casos de afastamento do trabalho e incapacidade de estabelecer relações pessoais e sociais estão relacionados com o sofrimento mental, entre eles: depressão, ansiedade, estresse e doenças psicossomáticas.

“Tachada de mal do século, a depressão é responsável por retirar do mercado de trabalho milhares de profissionais todos os anos. No ano passado, 75,3 mil trabalhadores foram afastados em razão do mal, com direito a recebimento de auxílio-doença em casos episódicos ou recorrentes. Eles representaram 37,8% de todas as licenças em 2016 motivadas por transtornos mentais e comportamentais, que incluem não só a depressão, como estresse, ansiedade, transtornos bipolares, esquizofrenia e transtornos mentais relacionados ao consumo de álcool e cocaína. No ano passado, mais de 199 mil pessoas se ausentaram do mercado e receberam benefícios relacionados a estas enfermidades, o que supera o total registrado em 2015, de 170,8 mil.”

No final do ano passado, participei de um Seminário sobre Saúde Mental do Trabalhador, e uma das palestrantes foi uma Psicóloga de uma grande empresa brasileira que apresentou o trabalho de cuidado em saúde mental desta empresa com seus colaboradores, e como, a partir da implantação deste projeto, eles conseguiram diminuir aspectos como: fadiga, erros de procedimentos, afastamento, absenteísmo, faltas com atestados médicos por questões físicas e mentais, assédio moral e processos trabalhistas. Eles promoveram o cuidado com a saúde mental. Instituíram no programa da empresa uma equipe de médicos, assistente social, fisioterapeuta, psicólogos, a fim de trabalharem em conjunto e em parceria com os colaboradores. Os mesmos se sentiram acolhidos, respeitados, cuidados. Atualmente um colaborador desta empresa não precisa sair do ambiente do trabalho para realizar uma consulta médica, ou realizar algum procedimento fora da empresa. A empresa disponibiliza este serviço e acompanhamento dentro da instituição , assim o colaborador não precisa perder parte do seu tempo de trabalho em deslocamento e consulta.

É claro que nem todas as empresas tem um financeiro disponível para implantar um projeto como esse na sua instituição, mas por que não promover uma saúde mental e física, abrindo as portas da empresa para parcerias, palestras e acompanhamentos?

Um sujeito que está triste, com uma percepção negativa de si mesmo, sentindo-se desvalorizado, sem promoções e reconhecimentos dentro de uma empresa, não apenas deixa de agir, como também tem dificuldade em pensar e funcionar. A tristeza promove uma recusa de saber.

“O mundo consegue aceitar e se sensibilizar quando qualquer outra parte do seu corpo adoece, menos o cérebro. Vivemos em um mundo onde, quando alguém quebra um braço, todo mundo corre para assinar no gesso. Mas a pessoa apresentar-se deprimida, com baixa auto-estima, todo mundo foge, até mesmo a empresa, essa é a primeira a abandonar o sujeito em sofrimento. Para a empresa, colaborador bom é aquele que produz.

“A visão que se tem do ser humano hoje, traz uma cultura que vai fatalmente gerar neuroses e patologias”, explica a psicóloga Isabela Siegel Correa. Ela informa que o estresse é uma condição natural do organismo para enfrentar situações de perigo, onde se deve lutar ou fugir, ação que os trabalhadores nunca podem realizar. “Essa condição se torna prejudicial quando repetida constantemente, sem possibilidade de descargas emocionais, gerando melancolia, depressão, neuroses e diversos tipos de ansiedade”.

 

Referências:

1* http://www.previdencia.gov.br/2014/04/saude-e-seguranca-do-trabalho-estudo-da-previdencia-social-indica-mudanca-nas-causas-de-afastamento-do-trabalho/

http://metalrevista.com.br/2015/09/04/o-trabalho-que-enlouquece/

http://epocanegocios.globo.com/Carreira/noticia/2017/02/mais-de-75-mil-pessoas-foram-afastadas-do-trabalho-por-depressao-em-2016.html).


Sobre a Autora:  Caroline Gouvêa S. Wallner* CRP04/25492Psicóloga (2006); Especialista em Saúde Mental e Atenção Psicossocial; Psicanálise. Editora e responsável pelo o Psicanálise e Amor                        Atendimento clínico há 16 anos. Contato:  (15) 98119-7327 carolinegouveapsi@gmail.com