Qual o preço que pagamos em negar um sentimento?
Autora: Caroline Gouvêa * – 02/07/2020
É natural sentir medo, assim como a tristeza, a alegria e a raiva. As emoções, os sentimentos são inerentes ao ser humano.
Sentir medo, por exemplo, é uma reação natural que antecipa um movimento para enfrentar ou fugir.
Observe uma criança e veja como ela transita por todas as emoções. Em um momento ela está alegre e sorridente, algo acontece e ela se torna agressiva e raivosa, para logo depois cair no choro e ficar assustada… E, em 5 minutos, ela está toda alegre novamente. Isso é o que todos nós deveríamos fazer com as nossas emoções: senti-las, deixá-las fluir e vê-las desaparecer algum tempo depois, sendo substituídas por outras. Isso é natural, ou será que estamos a todo tempo tentando enquadrar com um nome inserido numa classificação médica a forma de funcionamento?
Será que a contemporaneidade, através dos discursos imperativos e positivistas, está elegendo um modo único e privilegiado de ser e agir? Como se uma forma generalizada servisse para todas as pessoas na garantia de reduzir o sofrimento?
A dor natural de ser e existir demanda de nós um enfrentamento. Será que estamos fugindo dele?
O problema não é sentir medo, raiva, tristeza, alegria… O problema é tentar, o tempo todo, não sentir, reprimir, negar o que está sentindo, se calar, e não ser a pessoa que você é. Toda vez que você se afasta das suas verdades, mesmo sendo não toda, o sofrimento advém. Se colocar como refém do desejo do Outro, buscar aprovação o tempo todo no Outro, acarretará em excesso de sofrimento. A questão é como cada pessoa se relaciona com ele.
É uma ilusão acreditar que se tem o controle, ou o poder sobre as emoções, aliás, temos o controle de que? Freud diz que uma emoção reprimida permanece viva dentro de nós até encontrar uma forma de saída.” Entendo que o corpo é a primeira via de acesso e um lugar de expressão deste sentimento reprimido.
Um sofrimento que advém de uma rejeição de si mesmo, uma negação de suas próprias emoções e, em última análise, uma negação da realidade.
“Nunca se pode dizer até onde esse caminho nos levará; cede-se primeiro em palavras e depois, pouco a pouco, em substância também.” Sigmund Freud …
Por um mundo com mais seres humanos, com suas (in)certezas e menos aspirantes a justiceiros da verdade de forma única e generalizada.
“Cada um carrega em si o dom de ser capaz e ser feliz”, a seu modo, a sua maneira. Cada um tem uma história, e uma forma particular e individual de expressar e se relacionar com os sentimentos.
Sobre a Autora: Caroline Gouvêa S. Wallner* CRP04/25492– Psicóloga (2006); Especialista em Saúde Mental e Atenção Psicossocial; Psicanálise. Editora e responsável pelo o Psicanálise e Amor Atendimento clínico há 16 anos. Contato: (15) 98119-7327 carolinegouveapsi@gmail.com